quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Moinho Santore: patrimônio arquitetônico regional

Moinho Santore, Linha Famoso, Descanso-SC
por Keila Wronski e Júlia Schulz

Manter acesa na memória a história escrita pelos nossos antecessores é uma das maneiras de valorizar o trabalho que tiveram para alcançarem tudo o que temos e somos hoje. Há 66 anos atrás, quando o moinho foi construído, era enorme a sua importância no mercado da agricultura regional, onde os agricultores vendiam o trigo que plantavam, ou trocavam a matéria-prima pelo produto final. Hoje, apesar de não estar mais em funcionamento, o Moinho representa um importante passo no desenvolvimento econômico do município de Descanso.
A Região Oeste de Santa Catarina, sempre foi uma região de conflito, principalmente por questões de limite: a priori, entre portugueses espanhóis e, depois, entre os Estados de Paraná e Santa Catarina. Ao contrário do que o nome pode insinuar, Descanso representou para a Coluna Prestes, em 1925, local de batalhas e busca por mudanças, além de servir como repouso para os revolucionários - de onde surge o nome do município. Os primeiros moradores da cidade relatam que foram encontrados pertences deixados pela Coluna (espadas, mosquetões e balas), que comprovam a estadia dos militantes nesse local. Apesar de muita exploração dos primeiros moradores e da dificuldade em abrir estradas e construir moradias nos primeiros anos de colonização, o que mais vale, apesar de tudo, é a força do povo que teve a coragem de desbravar novas terras, e não desistir apesar de todas as dificuldades. Hoje, Descanso tem como principal mantenedor da economia a agricultura familiar, em pequenas propriedades, além de comércio e indústrias de pequeno porte.
Os moinhos hidráulicos, em décadas passadas, estiveram muito presentes na vida de pessoas que viviam, principalmente, nas zonas rurais do país. Mesmo com a urbanização e industrialização nos grandes centros urbanos, muitas localidades ainda mantém seus moinhos em funcionamento.
Na época em que funcionavam, cada morador das proximidades levava seus produtos colhidos até o moinho mais próximo onde esses eram estocados. Durante um tempo determinado (até a vinda da próxima safra) esses produtos eram retirados dos depósitos para que as transformações devidas acontecessem e voltassem, na sua forma transformada, para seus donos. O dono pagava pelo processo que o moinho podia oferecer, e não pelo produto em si. Para os moradores que não possuíam seus próprios produtos ainda havia a possibilidade de comprar produtos vendidos especialmente para situações como essa.
 
Arquitetura singular em ótimo estado de conservação


O espaço que o edifício está localizado fica na zona rural, essa que geralmente possui, em sua grande maioria, locais com uma arquitetura mais simples. Foi construído em madeira, em uma época em que esse material era muito barato e abundante.
A configuração da propriedade onde está inserido o moinho representa claramente as principais características da agricultura da época, com pequenos galpões chamados popularmente de “paiol” e espaços para a criação de animais e plantio de hortaliças. Além disso, na época em que o moinho ainda funcionava, na residência em frente ao mesmo, morava o antigo dono. A parte de baixo da edificação servia como mercearia, onde eram vendidos produtos diversos e a venda era muito intensa por se tratar do local de comércio mais próximo para os moradores da comunidade.
Todo o maquinário ainda está exatamente onde estava em seu tempo de funcionamento, porém debilitado pelo desuso. Em seus elementos estão:
  • Depósito de grãos;
  • Moedor de farinha;
  • Pedra moedora de milho;
  • Descascador de arroz;
  • Socador de erva;
  • Peneiras;
  • Elevadores de grãos.
Equipamentos e mobiliário são conservados pela família.


Ainda existem alguns móveis, como cadeiras e balanças, que retratam o estilo da época: simples e campeiro.
Através de estudos realizados, tem-se notado a quantidade de acervos patrimoniais perceptíveis em cidades da região Oeste de Santa Catarina. São locais muitas vezes esquecidos, deteriorados pelo tempo, mas que possuem histórias e valores que devem ser lembrados. O Moinho Santore marcou uma geração cujos objetivos de vida eram muito diferentes do que se presencia hoje. As famílias viviam em busca de coisas mais simples, e as poucas inovações de maior relevância estavam remetidas à apenas melhorar a vida familiar, esta que em sua grande maioria, era rural.

Edificação comercial junto ao moinho

Represa utilizada para movimentar o moinho hidráulico


REFERÊNCIAS

ORO, Eliseu. História de Descanso - SC. 2.ed. Descanso: McLee, 2001

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