quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Igreja Matriz de Três Passos - RS

Pesquisa de Kívia Unser, Andréa Schroeder e Sandra Fernandes
Acadêmicas do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAI Faculdades

IGREJA CATÓLICA SANTA INÊS, TRÊS PASSOS, RIO GRANDE DO SUL

Fachada frontal

Início da construção: 1958
Término da construção: 1972
Área total construída: 1891,82m²



A proteção do patrimônio cultural e a expansão urbana é um desafio não só do poder público, mas também papel fundamental de cada cidadão.
Perceber-se a degradação de inúmeras obras, que em muitas cidades possuem valor artístico e cultural, de propriedade publica ou particular, onde muitas delas lamentavelmente dão lugar a outras edificações que se sobrepõem a paisagem tradicional, desconsiderando todos os condicionantes do espaço urbano e sua história.
A Igreja, com construção iniciada em 1958, apresenta estilo arquitetônico caracteristicamente neogótico. Os arcos e as nervuras possuem simbologia de culto e adoração. A ocorrência da rosácea e dos pináculos também reforçam esse estilo. Os vitrais coloridos e ilustrados representam também o estilo.

ESTRUTURA
PAREDES: Foram feitas em alvenaria de tijolos assentadas com argamassa de cal, areia e cimento.
COBERTURA: A Igreja apresenta cobertura em telhas de barro do tipo francesas;
PISO: Apresenta piso de cerâmica (diferente do que consta no memorial).
FORRO: Foi feito em placas mineral (60cmx60cm). Segundo memorial deveria ter sido feito em tabuas de madeira.
ESQUADRIAS: As portas são em Madeira de louro e do tipo almofadadas e as janelas em perfis de ferro tipo vitrais.


TÉCNICAS E SISTEMA CONSTRUTIVOS UTILIZADOS
Arco ogival: É um elemento geométrico característico da arquitetura gótica que veio substituir o arco de volta perfeita utilizado no Românico.
Colunas: Na arquitetura, Coluna é um elemento arquitetônico vertical, alongado. As colunas geralmente são utilizadas para suportar o peso da estrutura, mas podem servir também para fins decorativos.

CARACTERÍSTICAS PLÁSTICAS
          Dominância vertical;
          Dominância dos vazios sobre os cheios;
          Simetria;
          Impressão de força, grandiosidade e delicadeza;
          Aspecto imponente;
          Escala monumental – enormes dimensões;
          Iluminação compensada pelos vitrais coloridos;
          Temática decorativa;
          Fachada principal em três níveis 
Fachada lateral

PRESERVAÇÃO E CONDIÇÕES ATUAIS
O processo de construção da Igreja passou por uma longa etapa, levando cerca de 10 anos. Primeiramente ergueu-se a Nave Central. Anos mais tarde a parte onde hoje fica o Altar e por último levantaram a única Torre da Igreja. Sua fachada apresenta cor bege com detalhes em branco.
A estrutura em si está muito bem conservada possibilitando o acontecimento de celebrações regulares. Entretanto, algumas reformas estão sendo feitas no forro da mesma, deteriorado devido algumas goteiras provenientes de problemas existentes na cobertura que já foram solucionados. A cobertura de telhas de barro foi reformada com o decorrer dos anos apresentando partes em telhas de aluzinco assim como a pintura que deve receber atenção de tempos em tempos. 


Nave central e duas naves laterais

RELAÇÃO DO ESPAÇO COM O ENTORNO URBANO E A POPULAÇÃO
É fácil reconhecer quando estamos em algum lugar antigo da cidade, as formas construídas denunciam a passagem do tempo, são tipos específicos, arquiteturas, materiais que são fáceis e identificar e diferenciar dos demais locais da dentro da cidade.
Os prédios do antigo Centro de Três Passos não são carregados de vidros e espelhos como os de outras partes da cidade, e isso é uma marca da identidade histórica do local, conservando-se antigos casarões e edificações históricas.
 


 
Memorial descritivo quando da sua construção


Planta baixa: 1 - Altar; 2 - Sacristia; 3 - Transepto; 4 - Nave Central; 5 - Nave lateral; 6 - Torre;           7 - Nartex; 8 - Sala batismal.
Arco ogival

Colunas na fachada frontal

Fachada frontal



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Igreja de Linha Catres, Mondaí/SC



Pesquisa elaborada por Gean Barth, Gilmar Kessler, Patrícia Flach e Vanessa Hofstetter.
Acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAI Faculdades.

A Igreja Puríssimo Coração de Maria, de confissão católica, está situada na Linha Catres, interior do município de Mondaí/SC. Localizada numa área comunitária de 6.000 m², a edificação tem em torno 534 m². 

Foto: Jairo Hofstetter


A colonização de Linha Catres teve início aproximadamente nos anos de 1926 a 1927. O primeiro morador foi o Sr. Herbert Grünewald juntamente com a sua mãe, o qual retornou para Alemanha onde teria morrido como combatente na segunda guerra mundial e sua mãe foi enterrada no cemitério de Catres.

Mais tarde, vieram pessoas do Rio Grande do Sul, a maioria da cidade de Arroio do Meio, , sendo estes os colonizadores destas terras: Oscar Kern, Edmundo Born e Reinoldo Zanck, Fridoldo Blatt, Pedro Meier, Eugênio Maldaner, Guilherme Hofstetter, Francisco Spielmann, Pedro Magerl, Rainoldo Gergen, Balduino Specht e Wilibaldo Weizenmann.
Primeira capela.  Foto: Arquivo da comunidade

Segundo relatos de colonizadores, o nome da comunidade surgiu devido ao fato de um morador ter perdido uma cama na sua mudança, a qual quebrou, sendo que na língua Guaraní “catre” significaria cama quebrada, dando origem ao nome “CATRES”.

Já em 1944 foi inaugurada a capela que servia também como escola, com sua primeira missa celebrada pelo Padre Teodoro Treiss e iniciando as atividades escolares com a professora Lucila Elisabeta Maria Krenzel. No ano de 1962, a comunidade recebeu seu primeiro prédio escolar, uma sala de madeira, do governo Estadual, que foi construída num terreno doado pelo Sr. João Marasca.

No dia 7 de fevereiro de 1960 foi realizada uma primeira reunião para discutir o desejo de construção de uma nova igreja. Um desejo colocado em prática numa segunda reunião realizada em 24 de fevereiro de 1961, onde já foi escolhida através de votação dos sócios, a comissão construtora, a qual foi constituída pelos já falecidos Matias Afonso Veit, Leopoldo Celestino Flach, Benjamim Hofstetter, Artur Gabriel, e Afonso Meier. 

Construção da atual Igreja. Foto: Arquivo da comunidade


Na época do início da construção da igreja, 80 (oitenta) famílias residiam na comunidade, as quais eram visitadas regularmente pelo Padre Vendelino Seidel e pela comissão construtora. Sendo que, conforme decidido pela comissão, cada família trabalharia um determinado número de dias prestando serviços e teria a obrigação de fornecer anualmente uma certa quantia em dinheiro, o equivalente a 100Kg de porco.
A partir dos meados de 1966 as celebrações da comunidade já eram realizadas na nova igreja, mesmo que a mesma não estava bem concluída. A inauguração foi celebrada pelo Padre Afonso Hansel, o qual foi o representante oficial do Bispo de Chapecó.

A constituição de um elo de ligação entre comunidade e o legado histórico-cultural acontece a partir do reconhecimento desse patrimônio pelos membros dessa comunidade. Esse processo só se torna efetivo quando o patrimônio tem a capacidade de oferecer um sentido identitário à comunidade local, esse sentido é identificado principalmente no valor afetivo expressado no relato dos moradores, que demonstram o significado da igreja como parte da tradição perpetuada dentro do âmbito familiar, pela vivência e memória dos acontecimentos individuais e coletivos que estão sempre relacionados a igreja.

A Igreja Puríssimo Coração de Maria foi construída com cerca de 12 mil tijolos, adquiridos com o morador Ferdinando Krenzel que possuía uma olaria movida a tração de duas mulas em Catres, sendo todos esses tijolos puxados de carroça pelos moradores até o local da construção.

Naquela época não existia brita, por isso foi usado o cascalho, o qual era retirado do Rio Uruguai juntamente com a areia pelos moradores. A madeira para caixarias e andaimes eram todos doados pelos moradores.

O estilo da igreja traz características da arquitetura neogótica, tais como a verticalidade, os arcos cruzados, a torre pontiaguda e verticalizada, as portas e janelas com arcos ogivais, formas encontradas também no altar e nas fachadas.  Ela é formada por uma única nave.

A igreja construída sob responsabilidade do Engenheiro Humberto Machado, e desenhista Adão Bueno, possui 35 metros de comprimento por 15 metros de largura e uma torre de 35 metros de altura.











sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

IGREJA MATRIZ DE SÃO JOÃO DO OESTE - SC


por Douglas Franzen. Docente da Uceff Itapiranga


A Vila São João
Para compreender a dimensão de uma Igreja como a de São João do Oeste, primeiro é preciso compreender Porto Novo. Olhar uma igreja com essas dimensões, com essa arquitetura monumental e esplendorosa nos remete a pensar: quanto esforço comunitário foi necessário para construí-la? Quanto sacrifício? Quanto trabalho comunitário? Quanto conhecimento e audácia construtiva foram despendidos num projeto dessas dimensões? Uma resposta nos vem nesse momento: essas igrejas simbolizam os pilares de Porto Novo.
A colonização de São João do Oeste iniciou em 1932, no contexto da Colonização Porto Novo (Itapiranga, Tunápolis e São João do Oeste), projeto colonizador iniciado em 1926 pela Volksverein. A tradição do catolicismo e da germanidade é um marco significativo desde o início da colonização, sendo a Igreja um dos primeiros edifícios construídos nos centros comunitários das linhas coloniais. O espaço comunitário foi significativo para o desenvolvimento da colônia e por isso o tripé igreja-escola-clube reflete a paisagem de grande parte das comunidades católicas ainda na atualidade.
Um projeto colonizador tão audacioso, que pretendeu unir o catolicismo e o germanismo frente aos desafios da moral comunitária do início do século XX mereceu todas as atenções do clero católico. Não demorou para o Bispo de Palmas vir ver com seus próprios olhos o projeto da Volksverein. Isso aconteceu em 1940, instantes antes da Segunda Guerra Mundial, e a Vila São João não perdeu tempo em requisitar seu status de paróquia. Na verdade, a Vila São João já havia sido demarcada pela colonizadora para ser desde o princípio um centro, uma potencial cidade. Esse marco significativo para a comunidade católica da Vila São João ocorreu em 1951, quando foi elevada à categoria de Paróquia São João Berchmans pelo então bispo de Palmas, Dom Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Melo. Para conquistar o título de Paróquia, a Vila precisava de uma igreja com uma amplitude que atendesse a tal pretensão. A comunidade o fez com maestria. O padroeiro São João Berchmans é reconhecido no catolicismo como referência da Companhia de Jesus, congregação muito atuante na história de Porto Novo e ainda presente na comunidade local. 



A dimensão arquitetônica da igreja
A primeira capela toda em madeira da Vila São João foi construída em 1934, sob liderança do Pe Teodoro Treis S.J. Na época de sua construção 12 famílias residiam na pacata vila. A atual Igreja Matriz da Paróquia São João Berchmans de São João do Oeste teve sua construção iniciada no ano de 1945 sendo concluída no ano de 1948. Sua planta retangular possui as consideráveis medidas de 38mx14m, totalizando 532m². Nessa composição se formam uma nave central, duas naves laterais, um altar com presbitério todo em madeira, sacristia.
A técnica construtiva vernacular reflete a simbiose característica do processo colonizador, que aliou conhecimentos trazidos pelas famílias com os materiais disponíveis na região e as técnicas que foram adaptadas ao meio e às necessidades das dificuldades e limitações do período. Sua estrutura em madeira reflete o padrão construtivo enxaimel (Fachwerkbau) muito comum em colonizações alemãs. Mesmo não estando aparente, o enxaimel está presente na estrutura da Igreja e pode ser percebido no campanário, que possui dois sinos importados da Alemanha em 1954.
A necessidade da construção de um campanário em anexo se deu em virtude da impossibilidade de alocar os sinos na torre. Sua estrutura enxaimel pode ser percebida através do sistema de encaixe através de pregos de madeira (Holznägel) e pela numeração em números romanos que determina a sequência da estrutura. Esses elementos precisam ser valorizados, pois exponencializam a arquitetura da igreja.
A única torre da igreja (Turm), é encimada por telhado em formato Capacete Renano (Rheinisch Helm ou Rhombendach). O telhado renano consiste numa composição cumeira formada de quatro losangos irregulares com dimensões iguais, sustentado por quatro frontões. É um padrão arquitetônico muito utilizado em Igrejas de arquitetura românica, muito comum na região da Renânia na fronteira entre Alemanha, Suíça, França e Holanda, às margens do Rio Reno, principalmente no território sob predominância do catolicismo. É também a região do Hunsrück, origem de muitos imigrantes alemães que imigraram para o Brasil. Essa característica arquitetônica manifesta uma conexão entre a história e a atualidade, conectando duas regiões que possuem uma identidade histórica materializada pela memória das famílias imigrantes.
Na época de sua construção havia relativa abundância de madeira na região e a atividade madeireira representou um símbolo de colonização e ocupação do espaço pelas famílias colonizadoras. O projeto da Igreja é de autoria de Franz Deiss, que  também participou da construção da Igreja Matriz de Itapiranga. Hans Merkel foi o mestre carpinteiro, função que também exerceu na construção das igrejas de Linha Popi e Linha Santa Cruz. Franz e Hans imigraram da Alemanha no início da década de 1930 com formação em carpintaria e por isso dominavam a técnica construtiva com maestria. Pedro Follmann prestou os serviços de contramestre. Adolfo Grasel organizou a coleta de donativos em dinheiro e da madeira junto às famílias. Diversas pessoas da comunidade auxiliaram no trabalho voluntário de construção da Igreja (Frohnarbeit). As madeiras utilizadas foram principalmente a grápia, cabriúva e loro.
Originalmente o telhado era coberto com a telha em madeira (Schindeln), muito comum nos primeiros anos de colonização. Os bancos foram fabricados pela carpintaria de Edgar Hammes e as aberturas pela marcenaria de Alberto Junges. A primeira pintura externa foi de cal virgem.

No interior da Igreja há um coro hoje desativado, onde nos primeiros anos se apresentava o coral, tendo como acesso duas escadas em madeira. Atualmente o coro se encontra junto ao altar, onde regularmente se apresenta o Coral Santa Cecília, refletindo a conexão entre a cultura musical e arquitetônica. Junto ao coro ainda se encontra o antigo harmônio como uma relíquia da música sacra.

Também podemos perceber o confessionário (Beichtstuhl), móvel muito comum na colonização local e representativo para o imaginário e a cultura católica. O confessionário é um móvel de relevância histórica e simboliza a cultura do catolicismo local, refletindo a memória de uma cultura social manifesta por uma fervorosa religiosidade. Esses objetos precisam ser conservados porque representam a memória e sua dimensão simbólica. A arte sacra presente no altar e ao longo do templo são de considerável valor patrimonial.
Fachada lateral, 1950. Fonte: Casa da Cultura de SJO.

Fachada frontal em 1950. Fonte: Casa da Cultura de SJO
Vista da Vila São João com a Igreja como ponto focal.


Congregação Mariana na década de 1950

Visita do Bispo de Palmas, Dom Carlos Saboia de Melo

Inauguração e Benção do Campanário

Sua dimensão patrimonial
O patrimônio de um povo é composto pelos saberes, tradições e manifestações culturais herdadas das gerações passadas e que tem significado e identidade com o presente. Seja na sua manifestação material ou imaterial, o patrimônio vincula o presente com o passado, dá sentido para a memória e representa um valor a ser cultivado para o presente e para o futuro.
A igreja está localizada no centro da cidade como símbolo paisagístico e arquitetônico, o que evidencia a influência histórica do catolicismo na colonização da região. É símbolo da cultura religiosa católica que se manifesta na cidade e nas comunidades do interior. A igreja é um referencial para o cotidiano da população de São João do Oeste que a identifica como um valor de cultura e de tradição e por isso, precisa ser vivenciada, valorizada e constantemente restaurada para que se perpetue para as gerações futuras.
Atualmente a Igreja é espaço de convivência comunitária, sendo espaço de atividades celebrativas e festivas, como a Deutsche Woche (Semana Alemã) no mês de Julho e a Erntedankfest (Festa da Colheita) no mês de Maio.
A conexão que a arquitetura tem com seu entorno é de considerável valor paisagístico, manifestado pelo conjunto da Praça, com destaque para o ajardinamento e as árvores de pinus, que charmosamente acolhem uma ninhada de periquitos que contribuem ainda mais por valorizar o espaço no contexto da cidade.
A Igreja é reconhecida como a maior igreja construída totalmente em madeira da América Latina.
Coro construído em madeira



Detalhe do Campanário

Detalhe do encaixe e numeração, caracterizante do enxaimel (Fachwerk)

Campanário


Torre com detalhe do formato Capacete Renano