quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O arquiteto jesuíta: Irmão Francisco Gellermann, SJ

Irmão Francisco Gellerman, S.J.
Texto e Pesquisa: Padre Inácio Spohr. 
Fragmento do livro Memória de 665 jesuítas da Província do Brasil Meridional

Francisco Xavier Gellermann nasceu na Westfália, Alemanha, no dia 17 de dezembro de 1874. Perdeu os pais quando era criança. Morou na casa de parentes (um tio).
Francisco não teve queda para trabalhos na lavoura, mas de construção civil. A pregação de um missionário incentivou-o a buscar a vida religiosa. Um pároco indicou-lhe os jesuítas.
Francisco ingressou na Companhia de Jesus, em Blijenbeek, Holanda, a 01 de setembro de 1897. Durante o noviciado e, um pouco depois, no Colégio de Valkenburg, ajudou nos serviços da cozinha, até 1899.
Veio ao Brasil em fevereiro de 1900. Após alguns anos de trabalhos na cozinha e outros serviços, nas cidades de Rio Grande (1900-1901) e São Leopoldo (1902), esteve à disposição do P. Superior para realizar trabalhos de construção no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Assim consta nos catálogos da Província, ano após ano. Emitiu os últimos votos de Irmão jesuíta, dia 02 de fevereiro de 1908.
Em fins do primeiro ano (1901) foi chamado a Pareci Novo, onde se construía a primeira parte do novo Colégio. Foi-lhe confiada a arrumação do telhado e ele entendia bem seu ofício de carpinteiro. Construir telhado ficou sempre seu trabalho predileto.
Logo depois do trabalho em Pareci Novo, foi chamado a São Leopoldo para ajudar na construção de uma escola para externos. Depois voltou a Pareci. Nos primeiros cinco anos, teve que mudar 14 vezes de domicílio. Poucos padres ou irmãos terão mudado tantas vezes sua residência como ele. Basta ver a lista conforme o catálogo, mas aí não constam todos os domicílios em que esteve.
Com o tempo, Ir. Gellermann adquiriu conhecimentos na construção em tijolos e cimento armado e começou a ajudar, fiscalizar e a dirigir a construção de casas paroquiais, igrejas e colégios. Os colégios da Companhia no Rio Grande e Pelotas, os seminários de São Leopoldo e Santa Maria lhe devem parte das suas construções.
As igrejas de Bom Princípio (1905), Santo Inácio da Feliz (1917), Nova Petrópolis (1921) e Pareci Novo (1933), aumentos consideráveis ou até a construção mesma desde os fundamentos à torre. Em 1933, terminou a construção da nova e bela casa canônica de Porto Novo (Itapiranga). Em 1934, habilíssimo arquiteto, esteve em Cerro Largo duas semanas para fazer o projeto e começar a construção da nova casa paroquial.
Suas obras mestras são o edifício escolar do Colégio Catarinense (1924) em Florianópolis, o noviciado em Pareci Novo (1930), o Colégio Santo Inácio em Salvador do Sul (1935) e o Colégio Cristo Rei (1942), em São Leopoldo.
No ano de 1906, trabalhou na instalação da capela do Colégio Catarinense; uns meses depois, foi novamente na construção do ginásio de Pelotas e mais uma vez em Florianópolis. Foi então que ergueu o famoso galpão desportivo do Catarinense, de 40 x 13, alojando dois campos de tênis, que lhe ganhou muitos admiradores pela elegância da construção, a grande amplitude e a oportunidade. Ao mesmo tempo construiu a igreja doméstica no Colégio das Irmãs da Divina Providência em Florianópolis, obra pouco conhecida dos Nossos, mas muito bela.
Fora das obras para os Nossos, o Ir. Gellermann também ajudou a muitos outros, ora por plantas de igrejas ou capelas, ora por bons conselhos que dava de boa vontade. Era conhecido por toda parte, principalmente nas colônias, como competente em construções e outras coisas da vida prática. As construções distinguiam-se por grande solidez e segurança, às vezes até demasiada.
Em tudo que dizia respeito à pobreza e à construção era sumamente consciencioso. Não permitia que operários, materiais, carros, instrumentos destinados à construção se usassem para outros fins. Os operários admiravam-se do trabalho incansável do bom Irmão; era ele sempre o primeiro no terreno da construção e o último que o abandonava. Apesar da grande seriedade, gostavam muito de trabalhar com ele; sabiam que aprenderiam sempre coisas novas com ele e que receberiam o salário sem falta nos sábados.
Com o Ir. Gellermann os párocos e superiores religiosos perderam um fiel conselheiro em matéria de construção, a Companhia de Jesus um ótimo religioso que uniu extraordinárias qualidades de inteligência e vontade a uma piedade sincera e profunda. Edificava os operários e os muitos que chegavam para ver as construções não só pelo trabalho e a prudência e circunspecção com que sempre procedia, impressionava ao mesmo tempo pelas conversas sólidas e edificantes.
Ir. Gellermann foi homem de virtude sólida e viril. Sempre fiel nos exercícios de piedade e merecia toda confiança dos seus superiores que o mandavam sem receio aonde era preciso. Era humilde. Não se vangloriava das obras feitas. Fazia tudo para a maior glória de Deus.
É de estranhar quanto o Ir. Gellermann tenha trabalhado apesar das doenças dolorosas que o atormentavam desde dezenas de anos. Sentia fortes dores nos intestinos. Fez consultas médicas, mas os remédios não lhe deram alívio. Por anos inteiros teve a maior dificuldade com o comer.
Além disso, no decorrer da última construção teve muita tosse. Foi internado no hospital de São Sebastião do Caí. A situação era grave. Recebeu os santos sacramentos. Foi levado a São Leopoldo. Faleceu no dia 05 de junho de 1942, numa 1ª sexta-feira, dia esse sempre desejado por ele para morrer. Tinha 67 anos de idade e 45 de Companhia.
Colégio Cristo Rei, São Leopoldo-RS

Colégio Santo Inácio, Salvador do Sul-RS

Colégio Catarinense, Florianópolis-SC

Paróquia Nossa Senhora da Purificação, Bom Princípio-RS.

Paróquia Santo Inácio, Alto Feliz-RS
Casa Canônica, Itapiranga-SC

Seminário Pareci Novo-RS


OCUPAÇÕES NA COMPANHIA DE JESUS




Qual

Casa
Lugar
Período
Cozinheiro auxiliar
Colégio Santo Inácio
Valkenburg, Holanda
1899-1900
Cozinheiro
Residência S. Coração
Rio Grande, RS
1900-1901
Carpinteiro
Colégio Conceição
São Leopoldo, RS
1902
Pedreiro
Colégio Gonzaga
Pelotas, RS
1903-1904
Pedreiro
Colégio Conceição
São Leopoldo, RS
1905-1906
Pedreiro
Colégio Catarinense
Florianópolis, SC
1907-1916
Pedreiro
Colégio Gonzaga
Pelotas, RS
1917
Pedreiro
Paróquia Santo Inácio
Santo Inácio da Feliz
1918-1920
Pedreiro. Marceneiro
Colégio São José
Pareci Novo, RS
1921-1923
Pedreiro. Construtor
Colégio Catarinense
Florianópolis, SC
1924-1926
Pedreiro
Colégio Anchieta
Porto Alegre, RS
1927
Pedreiro. Construtor
Seminário São José
Santa Maria, RS
1928
Pedreiro. Construtor
Colégio São José
Pareci Novo, RS
1929-1932
Pedreiro. Construtor
Paróquia Sagrada F.
Cerro Largo, RS
1933
Pedreiro. Construtor
Colégio São José
Pareci Novo, RS
1934
Pedreiro. Construtor
Paróquia SS. Salvador
Tupandi, RS
1935-1936
Pedreiro. Construtor
Colégio Santo Inácio
Salvador do Sul, RS
1937
Pedreiro
Paróquia São João B.
Santa Cruz do Sul, RS
1938
Pedreiro. Construtor
Colégio Catarinense
Florianópolis, SC
1939
Pedreiro. Construtor
Vila Gonzaga
São Leopoldo, RS
1940-1941