quarta-feira, 26 de julho de 2017

Igreja São Rafael, Linha Popi, Itapiranga-SC



Por: Daniele Tessing, Daiane Müller, Denise Reinehr
Acadêmicas do Curso de Arquitetura e Urbanismo
FAI Faculdades

Porto Novo tem como data de início da colonização abril de 1926. Fundada sob coordenação da Volksverein, foi idealizada para receber colonizadores de ascendência alemã e católica. A base da colonização foi pensada para distribuir lotes coloniais com a formação de núcleos comunitários, vilarejos onde se estabelecia casas comercias, a escola e a Igreja e clube recreativo. 
A comunidade de Linha Ipê Popi está localizada a cerca de treze quilômetros da sede do município de Itapiranga – SC. É considerada uma das mais antigas comunidades de Itapiranga sendo fundada logo após a colonização.
A comunidade de Popi foi fundada nos primeiros anos de colonização de Porto Novo.
 
Centro comunitário de Popi, 1997. Fonte: Comunidade de Popi





Antiga Igreja construída em 1929. Fonte: Comunidade de Popi

 A nova Igreja São Rafael

Nos anos de 1950, a comunidade se mobilizou com a finalidade de construir uma nova igreja para a comunidade, uma vez que a antiga já não comportava o número crescente de moradores. Foi contatado o mestre de obras Reinoldo Goetz, que ficaria responsável por comandar todo o processo de construção.
Como naquela época havia uma grande dificuldade de conseguir recursos das esferas municipal, estadual ou federal, a Igreja foi erguida através do trabalho voluntário dos moradores da comunidade. A grande maioria destas pessoas era responsável pela identificação e derrubada das arvores de maior porte que serviriam para a construção, ou então, pelo transporte que era realizado por força animal.
Apenas para citar, relatos dão conta de que o morador Aloisio Hass popularmente conhecido por Sony, proprietário de uma serraria, dedicou 30 dias de seu trabalho inteiramente voluntário para a construção da igreja. Assim fora com a maioria das famílias da comunidade.

Num gesto de espírito comunitário os sócios da comunidade de Linha Ipê-Popi, sob a orientação de um mestre de obras se empenharam e construíram esta capela, uma verdadeira obra de arte. Tudo isso com os trabalhos em mutirão dos moradores da comunidade, além de doarem toda a madeira para a construção. As espécies de árvores retiradas da mata para a construção foram a Cabreúva (Myrocarpus frondosus) para as estruturas, a Cana fístula (Peltophorum dubium) e o Pinus para o fechamento com tábuas.
Na época havia madeira abundante nas matas, no entanto as dificuldades foram grandes para derrubada das toras, transporte para serraria e levantamento da obra. As estradas eram estreitas e por isso as carroças carregadas com as toras enfrentavam dificuldades para se locomover.

Composição estrutural na construção em 1952. Fonte: Comunidade de Popi
Na fotografia acima, da composição da estrutura, pode-se observar as pilastras que são peças únicas de madeira com 11 metros de altura e seção de 30 por 30 centímetros aproximadamente. O pé direito livre na nave central também se aproxima dos 11 metros de altura. Aos fundos, aparece também a estrutura do que viria a ser o coro (local onde se localizava o coral durante as celebrações. Os ripamentos da estrutura tem seção aproximada de 20 por 20 centímetros.

Na fotografia com vista lateral é possível ter uma noção da dimensão da igreja. Se observarmos a estrutura, esta tem traços que se assemelham ao enxaimel, mas, para se ter certeza deste fato, seria necessária uma análise técnica mas detalhada. Atualmente esta estrutura não é visível, por estar coberta pela vedação das tábuas de madeira.
 
Vista frontal da Igreja em 1952. Fonte: Comunidade de Popi.
Estrutura, vista lateral em 1952. Fonte: Comunidade de Popi


No dia 21 de dezembro de 1952 foi inaugurada a atual igreja e no mesmo dia o Padre Helmut Kayser celebrou a sua primeira missa nesta capela. Neta data, ela ainda não era pintada. Segundo relato, o fato foi intensamente comemorado pela comunidade com 3 dias de muita festa.
Internamente, seguindo a tradição dos cultos da época, o altar na parede e o celebrante realizava as missas de costas para as pessoas e geralmente em latim. Em frente ao altar havia uma divisória para separar as pessoas do celebrante aonde as pessoas se ajoelhavam em fileira para receber a sagrada eucaristia. Durante as celebrações, apenas o celebrante e os coroinhas tinham acesso ao altar. 


O posicionamento das carreiras de bancos também era característico da tradição religiosa local. Eram quatro carreiras, como pode ser observado na imagem abaixo tirada durante uma festividade com a igreja ainda não pintada, onde os homens a direita e as mulheres a esquerda, e nas naves laterais ficavam as moças a esquerda e os rapazes a direita.

Celebração religiosa, paredes ainda sem pintura. Fonte: Comunidade de Popi

Não se sabe ao certo a data em que foi realizada a primeira pintura, pois não há nenhum registro em ata, porém, pelas imagens é possível concluir que ocorreu entre os anos de 1959 quando há o registro fotográfico do encontro das moças da Congregação Mariana em frente à igreja ainda sem pintura e outras imagem que datam de 1969 já é possível identificar a pintura em registro fotográfico da substituição da cobertura.
A cobertura original da igreja foi feita com telhas coloniais. Em 1969 decidiu-se  fazer a substituição por telhas de zinco. Nas imagens abaixo podemos observar diversos trabalhadores empenhados na retirada das antigas e colocação das novas telhas. É possível verificar uma grande parte já substituída e uma porção ainda por substituir. Em ambos os lados da igreja foram construídas rampas de madeira para permitir os trabalhadores subirem e descerem da cobertura.

 
Fachada lateral quando da troca da cobertura em 1969. Fonte: Comunidade de Popi




Em 1985 foi realizada uma reforma geral da estrutura, com substituição de tábuas e algumas aberturas que foram afetadas pela umidade. Também foi realizada a pintura tanto interna quanto externa e da cobertura. Uma das alterações que foram realizadas nesta reforma de 1985 foi o reforço dos pilares com tijolos maciços.

Reforço do pilar com tijolos. Foto: Daniele Tessing



Como não havia a possibilidade da retirada dos pilares de madeira cerca de 50 por 50 centímetros, estes acabaram permanecendo no local até hoje. Pode-se verificar a deterioração onde a estrutura tem contato com o solo. Isso se dá porque, na época da construção não se tinha um conhecimento de impermeabilização, por isto a durabilidade deste material não é de prazo muito longo.
Desde então, de anos em anos a igreja recebeu pequenas reformas, como a pintura do telhado, construção da rampa, do caminho de acesso na frente, a substituição eventual de tabuas deterioradas entre outras.

Em 2010, a estrutura da igreja foi atingida por cupins. Com isto, foi necessária uma reforma na estrutura de madeira da igreja. Não se sabe o quanto da estrutura que teve que ser substituída, nem se foram mantidas as espécies de madeira originais.

Nave Central, 2016. Foto: Daniele Tessing
Nave central, 2016. Foto: Daniele Tessing



Em 2013, houve a reforma da cobertura com substituição das telhas de zinco por telhas de aluzinco e a pintura interna. Além disto, algumas adequações foram feitas para adequar o espaço ás normas do Corpo de Bombeiros. Na ocasião, foi interditado o acesso ao coro, uma vez que a escada possui medidas fora das normas de segurança, com degraus de cerca de 15 cm de largura.


Em 2014 foi realizada a retirada total das instalações elétricas antigas e feita uma totalmente nova, uma vez que a antiga apresentava alguns problemas e oferecia risco de incêndio. Por ser uma construção quase que exclusivamente de madeira, um possível curto  poderia  causar grandes danos nesta edificação de grande importância para a comunidade. Ainda no mesmo ano foi realizada a pintura externa da igreja que por muitos anos era verde, sendo pintada de amarelo.
Fachada lateral atual, 2016. Foto: Daniele Tessing.

Acesso ao coro, 2016. Foto: Daniele Tessing

 
Congregação Mariana, 1959. Foto: Comunidade de Popi
Fachada Lateral, 1969. Fonte: Comunidade Popi

 
Confessionário original da Igreja. Foto: Daniele Tesssing


Harmônio preservado mas não mais utilizado. Foto: Daniele Tessing

 
Fachada no ano 2000. Fonte: Comunidade de Popi