terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Moinho Seberi: a representatividade patrimonial na paisagem urbana



Moinho Seberi. Fonte: Autores

 por: Thaís Kovalski, Francieli Figueira, Juliane Klein

A origem de Seberi deu-se no século XVIII, quando o território ainda era ocupado por luso-brasileiros que vinham da região de São Paulo com a finalidade de aprisionar índios e aproveitar o campo de solo fértil, nesta época foram formadas as primeiras roças para o cultivo de alimentos.  Muitas viajantes que seguiam de Palmeira das Missões para a região do Barril, que hoje denomina-se Frederico Westphalen, ou até mesmo para água do Mel a qual hoje é a atual Iraí, passavam por uma vasta mata nativa.  Muitos desses viajantes acabaram gostando do local e foram ali ficando e colonizando a região a qual ficou conhecida por Boca da Picada.
 
Seberi. Fonte: Pedroso, 2009
Com a efetivação de uma vila, surgiu o empreendimento de um moinho. Aos poucos foi surgindo à necessidade de expansão. Em 1946, quando as famílias Gemelli e Zanchet firmaram sociedade para a abertura de um pequeno comércio na Rua General Flores da Cunha onde ainda era distrito de Palmeira das Missões que, mais tarde, se emancipou e tornou se município de Seberi.  Com passar do tempo os negócios foram expandindo devido ao aumento do número de famílias com isso o prédio foi sendo expandido e o moinho totalmente construído. Na época, era feita a moagem de cerca de 150 sacas trigo ao dia, devido as famílias proprietárias irem crescendo e aos poucos deixando a cidade para morarem em outras localidades acabou sendo feita a partilha dos bens e a partir disto o moinho passou a ser de propriedade do senhor Genuíno Bertinato e filhos.
Moinho na época de sua inauguração, 1946. Fonte: Arquivo da Família.

Fonte: Pedroso, 2009

Fonte: Pedroso, 2009

A edificação situada na Rua Bento Gonçalves, no município de Seberi, foi um desejo da família em abrir um comércio no ano 1946 sendo construída por um conjunto de construtores, no qual somente anos mais tarde foi regularizado com o desenvolvimento de plantas baixas, cortes, fachadas e demais itens necessários para a aprovação da edificação. Para a época a construção era muito importante visto o seu estilo rural-colonial e sua funcionalidade que era um moinho, que funciona até os dias atuais. Além de não possuir muitas formas geométricas, ausência de ornamentos e estilos históricos, e grande uso do concreto, baseando-se na teoria de que menos é mais.
Inicialmente foi construído somente o bloco central que é onde estão as máquinas e o depósito, que atendia os clientes da região, no qual era feito a moagem de aproximadamente 150 sacas por dia, porém com o rápido crescimento a família notou a necessidade de aumentar, e assim criando um bloco para depósito de todo o produto recebido, e por último foi o construído o bloco separado que fica de frente para rua, que serviu como escritório e armazém de produtos secos e molhados, porém anos depois foi fechado ligando-o ao moinho. A edificação então não teve sua estrutura externa e pintura remodelada, apenas a estrutura interna que devido algumas intervenções, passou a ter outro piso e estão sendo retirados algumas divisórias devido a uma reforma em andamento.
A edificação possui vários traços que permaneceram presentes com o passar dos anos, identificados em suas fachadas, como, a curvatura da parede ao lado das janelas, os tons claros utilizados, a presença de janelas basculante, portas grandes de madeira, telhado platibanda nos primeiros dos blocos construídos e no outro telhado aparente, frisos nas fachada lateral do moinho, feitas a partir do concreto se revestimentos, além da tubulação de calhas visíveis na fachada.
Os ambientes internos são amplamente distribuídos compostos de máquinas do moinho e objetos históricos pertencentes ao antigo escritório e armazém. Percebe-se a grande presença de iluminação interna natural, porém pouca ventilação devido as pequenas janelas. Todos os ambientes apresentam divisórias de concreto e piso de madeira, além do acesso entre os diferentes pavimentos serem através de escadas de madeira, sem nenhum guarda-corpo e estreitas, menores que 1,20m para uma melhor circulação. As janelas basculantes são de madeira e vidro, e as portas e janelas aonde era o escritório são de aço com cores diferentes da original.














A cobertura é de zinco e telha aparente, não possui forro, assim pode se observar as tesouras e escoras que dão sustentação ao telhado. Além disso, ainda há a presença do reservatório de água superior e as tubulações de água, além da distribuição da fiação elétrica em tubulações também que estão aparentes nas paredes. Nota-se que a estrutura do telhado é bem reforçada, significando que mesmo sem um bom projeto desenvolvido os construtores entendiam sobre o mesmo e como deveriam fazer para mantê-la em pé por anos.
Atualmente no local ainda é possível observar a presença de equipamentos antigos e que foram de grande importância ao longo do anos para o crescimento do moinho. Bem como a logomarca do início do moinho utilizado para espalhar a marca do espaço para a região e assim obter clientes. Além de balança e o pacote utilizado para pesagem e distribuição do produto, a embalagem de distribuição era em pacote de papel, sendo que hoje em dia a maioria dos clientes levam a sua própria embalagem para a retirada da farinha.

 REFERÊNCIAS


JÚNIOR, Edilson Wanderlei Pedroso. ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SEBERI-RS. 187 p. Análise Urbano-Regional (Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande) - Universidade Federal do Rio Grande Instituto de Ciências Humanas e da Informação, Rio Grande - RS, 2009.
 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Moinho Santore: patrimônio arquitetônico regional

Moinho Santore, Linha Famoso, Descanso-SC
por Keila Wronski e Júlia Schulz

Manter acesa na memória a história escrita pelos nossos antecessores é uma das maneiras de valorizar o trabalho que tiveram para alcançarem tudo o que temos e somos hoje. Há 66 anos atrás, quando o moinho foi construído, era enorme a sua importância no mercado da agricultura regional, onde os agricultores vendiam o trigo que plantavam, ou trocavam a matéria-prima pelo produto final. Hoje, apesar de não estar mais em funcionamento, o Moinho representa um importante passo no desenvolvimento econômico do município de Descanso.
A Região Oeste de Santa Catarina, sempre foi uma região de conflito, principalmente por questões de limite: a priori, entre portugueses espanhóis e, depois, entre os Estados de Paraná e Santa Catarina. Ao contrário do que o nome pode insinuar, Descanso representou para a Coluna Prestes, em 1925, local de batalhas e busca por mudanças, além de servir como repouso para os revolucionários - de onde surge o nome do município. Os primeiros moradores da cidade relatam que foram encontrados pertences deixados pela Coluna (espadas, mosquetões e balas), que comprovam a estadia dos militantes nesse local. Apesar de muita exploração dos primeiros moradores e da dificuldade em abrir estradas e construir moradias nos primeiros anos de colonização, o que mais vale, apesar de tudo, é a força do povo que teve a coragem de desbravar novas terras, e não desistir apesar de todas as dificuldades. Hoje, Descanso tem como principal mantenedor da economia a agricultura familiar, em pequenas propriedades, além de comércio e indústrias de pequeno porte.
Os moinhos hidráulicos, em décadas passadas, estiveram muito presentes na vida de pessoas que viviam, principalmente, nas zonas rurais do país. Mesmo com a urbanização e industrialização nos grandes centros urbanos, muitas localidades ainda mantém seus moinhos em funcionamento.
Na época em que funcionavam, cada morador das proximidades levava seus produtos colhidos até o moinho mais próximo onde esses eram estocados. Durante um tempo determinado (até a vinda da próxima safra) esses produtos eram retirados dos depósitos para que as transformações devidas acontecessem e voltassem, na sua forma transformada, para seus donos. O dono pagava pelo processo que o moinho podia oferecer, e não pelo produto em si. Para os moradores que não possuíam seus próprios produtos ainda havia a possibilidade de comprar produtos vendidos especialmente para situações como essa.
 
Arquitetura singular em ótimo estado de conservação


O espaço que o edifício está localizado fica na zona rural, essa que geralmente possui, em sua grande maioria, locais com uma arquitetura mais simples. Foi construído em madeira, em uma época em que esse material era muito barato e abundante.
A configuração da propriedade onde está inserido o moinho representa claramente as principais características da agricultura da época, com pequenos galpões chamados popularmente de “paiol” e espaços para a criação de animais e plantio de hortaliças. Além disso, na época em que o moinho ainda funcionava, na residência em frente ao mesmo, morava o antigo dono. A parte de baixo da edificação servia como mercearia, onde eram vendidos produtos diversos e a venda era muito intensa por se tratar do local de comércio mais próximo para os moradores da comunidade.
Todo o maquinário ainda está exatamente onde estava em seu tempo de funcionamento, porém debilitado pelo desuso. Em seus elementos estão:
  • Depósito de grãos;
  • Moedor de farinha;
  • Pedra moedora de milho;
  • Descascador de arroz;
  • Socador de erva;
  • Peneiras;
  • Elevadores de grãos.
Equipamentos e mobiliário são conservados pela família.


Ainda existem alguns móveis, como cadeiras e balanças, que retratam o estilo da época: simples e campeiro.
Através de estudos realizados, tem-se notado a quantidade de acervos patrimoniais perceptíveis em cidades da região Oeste de Santa Catarina. São locais muitas vezes esquecidos, deteriorados pelo tempo, mas que possuem histórias e valores que devem ser lembrados. O Moinho Santore marcou uma geração cujos objetivos de vida eram muito diferentes do que se presencia hoje. As famílias viviam em busca de coisas mais simples, e as poucas inovações de maior relevância estavam remetidas à apenas melhorar a vida familiar, esta que em sua grande maioria, era rural.

Edificação comercial junto ao moinho

Represa utilizada para movimentar o moinho hidráulico


REFERÊNCIAS

ORO, Eliseu. História de Descanso - SC. 2.ed. Descanso: McLee, 2001