As casas têm histórias, evocam memórias, vivências e
experiências de vida. Cada residência emana uma vivência familiar que constitui
vínculos com a cultura, com a tradição e com os saberes.
A família Konzen
Toda história tem um começo, tem um encadeamento de
acontecimentos que precede o limiar de uma nova história, de uma nova vivência.
Foi através do casamento de Arlindo Konzen e Olga Hammes que se inicia a bela
história da família na comunidade de Cristo Rei, no município de São João do
Oeste. Arlindo Konzen nasceu em 17 de Maio de 1919 em Passo do Sobrado, então município
de Santa Cruz do Sul. Olga Hammes nasceu
em 05 de Abril de 1921 em Arroio do Meio. Arlindo veio morar com seus pais na
comunidade Linha Jaboticaba, quando tinha cinco anos de idade. A família de Olga estabeleceu residência na
Vila São João. Na vida tenra da juventude se conheceram nos regrados bailes de
Porto Novo. Diante da comunidade católica estabeleceram matrimônio no ano de
1944 na Igreja da Vila São João.
Como opção de moradia a família adquiriu um lote de terras
na comunidade de Cristo Rei, às margens do Riacho Fortaleza. Na época a
colonização de Porto Novo estava atingindo seus limites territoriais e a região
de Cristo Rei era uma nova frente de colonização. Por isso a família Konzen foi
uma das pioneiras da comunidade. De início a família construiu um rancho às
margens do riacho, onde residiu durante 11 anos e onde nasceram os primeiros
filhos.
Família Konzen. Fonte: Arquivo da família. |
A história da casa
Com a propriedade já estruturada e a prosperidade financeira
relativamente melhor, a família decidiu construir uma nova morada. A partir
disso, no ano de 1955, é construída a casa em madeira que encontramos ainda
hoje na propriedade. O primeiro filho que nasceu nessa casa foi Romeu Konzen.
Ao todo foram 17 filhos: Arno, Maria, Teresa, Ivo (em memória), Neli, Ivone,
Nestor, Alice, Romeu, Hedi, Beno (em memória), Helena, Hugo, Walter, Nair,
Pedro (em memória) e Beno (em memória).
Aos padrões atuais é difícil compreender como uma família
conseguiu educar 17 filhos. Numa época em que as dificuldades eram inúmeras, as
famílias precisavam criar alternativas de subsistência e vivência para dar
conta dos desafios cotidianos. A casa era uma simbiose de convivência familiar,
onde os cômodos se vinculavam criando uma harmonia moral e religiosa que
caracterizou grande parte das famílias de Porto Novo. O espaço de morada ia
para além das paredes da casa, se expandia para a propriedade, para o potreiro,
para o estábulo, para a roça e para a comunidade. Olga faleceu em 1983 e
Arlindo em 1994, os filhos cresceram e passaram a construir seu próprio
destino. Atualmente quem cuida da propriedade e zela pela preservação da casa
são Aloísio e Helena, que ali educaram seus dois filhos: Michel (em memória) e
Uilliam. A família se orgulha da residência e da propriedade, mantêm vivas as
memórias familiares, as tradições, os espaços simbólicos e conserva objetos
significativos para a trajetória da família Konzen.
Sua dimensão
arquitetônica
A arquitetura em madeira possui uma dimensão muito
significativa para a colonização Porto Novo. Ela reflete uma forma de construir
de um período em que a madeira representou um dos alicerces da economia local,
principalmente nessas edificações históricas em que o uso das madeiras hoje
consideradas “exóticas” ou “de lei” eram empregadas de forma mais usual.
Para construir uma edificação em madeira era necessário ter
muito conhecimento sobre os materiais, mas principalmente sobre as técnicas
construtivas. Por isso que a carpintaria foi uma atividade muito significativa
para o desenvolvimento da colônia. A casa foi construída em 1955 pelos
carpinteiros Edgar Hammes e (?) Lauxen.
A casa foi construída com madeira de araucária, trazida da
região de São Miguel do Oeste onde o irmão de Olga possuía uma madeireira. Os
barrotes (Balken) e os baldrames são
inteiriços e foram retirados da mata nativa da comunidade vizinha de Linha Medianeira
e talhados a mão. O assoalho (Fussboden) ainda é o original e se
encontra muito bem conservado.
A residência Konzen possui uma volumetria característica da
colonização germânica no Sul do Brasil. Toda em madeira possui uma planta
retangular (13m x 7,5m) com os cômodos distribuídos funcionalmente ao longo de
um corredor de acesso a partir do cômodo principal que é a cozinha. No
pavimento superior encontramos o sótão (Speiger)
que antigamente servia de quarto para os meninos e hoje serve como depósito. O
telhado é suportado por esteios encaixados que liberam um vão que possibilita
sua utilidade. Outro detalhe é o seu formato chanfrado na parte frontal e
posterior, elemento que cria uma plástica arquitetônica e tipológica comum em
colonizações germânicas. Em seu interior ainda encontramos mobiliários originais,
como o relógio carrilhão com pêndulo, muito comum nas casas coloniais.
O sótão - Speiger |
Relógio carrilhão com pêndulo |
Mobiliário da família Konzen |
Malas da família Konzen |
Barrotes inteiriços, talhados a mão com instrumentos coloniais |
Estrutura treliçada do telhado. |
Janela do sótão |
Imaginar como a técnica era um padrão desses engenhosos construtores e obreiros de tal modo que estas obras pudessem resistir ao tempo e hoje servir de exemplo para o estudo de projetos com tantas e variadas ferramentas modernas disponíveis.
ResponderExcluirNossa é uma relíquia
ResponderExcluirMuito interessante