Moinho Santore, Linha Famoso, Descanso-SC |
por Keila Wronski e Júlia Schulz
Manter acesa na memória a história escrita pelos nossos antecessores é
uma das maneiras de valorizar o trabalho que tiveram para alcançarem tudo o que
temos e somos hoje. Há 66 anos atrás, quando o moinho foi construído, era
enorme a sua importância no mercado da agricultura regional, onde os
agricultores vendiam o trigo que plantavam, ou trocavam a matéria-prima pelo
produto final. Hoje, apesar de não estar mais em funcionamento, o Moinho
representa um importante passo no desenvolvimento econômico do município de
Descanso.
A Região Oeste de Santa Catarina, sempre foi uma região de conflito,
principalmente por questões de limite: a priori, entre portugueses espanhóis e,
depois, entre os Estados de Paraná e Santa Catarina. Ao contrário do que o nome
pode insinuar, Descanso representou para a Coluna Prestes, em 1925, local de
batalhas e busca por mudanças, além de servir como repouso para os
revolucionários - de onde surge o nome do município. Os primeiros moradores da
cidade relatam que foram encontrados pertences deixados pela Coluna (espadas,
mosquetões e balas), que comprovam a estadia dos militantes nesse local. Apesar
de muita exploração dos primeiros moradores e da dificuldade em abrir estradas
e construir moradias nos primeiros anos de colonização, o que mais vale, apesar
de tudo, é a força do povo que teve a coragem de desbravar novas terras, e não
desistir apesar de todas as dificuldades. Hoje, Descanso tem como principal
mantenedor da economia a agricultura familiar, em pequenas propriedades, além
de comércio e indústrias de pequeno porte.
Os moinhos hidráulicos, em décadas passadas, estiveram muito presentes
na vida de pessoas que viviam, principalmente, nas zonas rurais do país. Mesmo
com a urbanização e industrialização nos grandes centros urbanos, muitas
localidades ainda mantém seus moinhos em funcionamento.
Na época em que funcionavam, cada morador das proximidades levava seus
produtos colhidos até o moinho mais próximo onde esses eram estocados. Durante
um tempo determinado (até a vinda da próxima safra) esses produtos eram
retirados dos depósitos para que as transformações devidas acontecessem e
voltassem, na sua forma transformada, para seus donos. O dono pagava pelo
processo que o moinho podia oferecer, e não pelo produto em si. Para os
moradores que não possuíam seus próprios produtos ainda havia a possibilidade
de comprar produtos vendidos especialmente para situações como essa.
O espaço que o edifício está localizado fica na zona rural, essa que
geralmente possui, em sua grande maioria, locais com uma arquitetura mais
simples. Foi construído em madeira, em uma época em que esse material era muito
barato e abundante.
A configuração da propriedade onde está inserido o moinho representa
claramente as principais características da agricultura da época, com pequenos galpões
chamados popularmente de “paiol” e espaços para a criação de animais e plantio
de hortaliças. Além disso, na época em que o moinho ainda funcionava, na
residência em frente ao mesmo, morava o antigo dono. A parte de baixo da
edificação servia como mercearia, onde eram vendidos produtos diversos e a
venda era muito intensa por se tratar do local de comércio mais próximo para os
moradores da comunidade.
Todo o maquinário ainda está exatamente onde estava em seu tempo de
funcionamento, porém debilitado pelo desuso. Em seus elementos estão:
- Depósito
de grãos;
- Moedor
de farinha;
- Pedra
moedora de milho;
- Descascador
de arroz;
- Socador
de erva;
- Peneiras;
- Elevadores
de grãos.
Equipamentos e mobiliário são conservados pela família. |
Ainda existem alguns móveis, como cadeiras e balanças, que retratam o
estilo da época: simples e campeiro.
Através de estudos realizados, tem-se notado a quantidade de acervos
patrimoniais perceptíveis em cidades da região Oeste de Santa Catarina. São
locais muitas vezes esquecidos, deteriorados pelo tempo, mas que possuem
histórias e valores que devem ser lembrados. O Moinho Santore marcou uma
geração cujos objetivos de vida eram muito diferentes do que se presencia hoje.
As famílias viviam em busca de coisas mais simples, e as poucas inovações de
maior relevância estavam remetidas à apenas melhorar a vida familiar, esta que
em sua grande maioria, era rural.
Edificação comercial junto ao moinho |
Represa utilizada para movimentar o moinho hidráulico |
REFERÊNCIAS
ORO, Eliseu. História de Descanso - SC. 2.ed. Descanso: McLee, 2001
Nenhum comentário:
Postar um comentário