quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Igreja Matriz de Itapiranga – Paróquia São Pedro Canísio


Por Douglas Orestes Franzen 
Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Uceff


"Dessa forma, reintroduziu-se ali o antigo sistema das fundações de abadias alemãs: primeiro a igreja, somente depois o povo."


É com esse registro da memória do Pe João Rick S.J. que apresentamos uma análise histórica e arquitetônica da Igreja Matriz da Paróquia São Pedro Canísio de Itapíranga.

A Igreja Matriz está localizada no centro histórico de Itapiranga, inserida no núcleo originário da cidade (Altstadt). Situada numa elevação em relação ao centro da cidade, sua arquitetura se destaca na paisagem local sendo referência em justaposição ao Rio Uruguai. Na imagem abaixo vemos a perspectiva da Altstadt de Itapiranga com destaque para o Centro Histórico (definido aqui pelas edificações históricas: Igreja, Kolping, Antiga Escola São Vicente, Museu, Hospital).

Itapiranga com destaque para o Altstadt e o centro histórico

Histórico de sua construção

A atual Igreja foi construída no local onde se localizava a antiga Igreja em madeira da vila Porto Novo que foi construída no ano de 1929. Devido ao crescimento populacional da colônia, a comunidade local se engajou na construção de uma nova igreja, mais ampla, em alvenaria e que pudesse dar conta das demandas da Paróquia São Pedro Canísio.  “O projeto arquitetônico da nova igreja foi de autoria de Hans Schaefer, em 1943, e retocado pelo padre Valério Alberton em 1946. Padre Teodoro Treis assumiu como coordenador de construção. A pedra angular foi abençoada em 27 de Abril de 1947” (JUNGBLUT, 2000, p. 309). Serafim Bertaso de Chapecó é o engenheiro que assinou o projeto de edificação que se encontra arquivado na Casa Paroquial de Itapiranga.
Antiga Igreja da Vila Itapiranga. Fonte: Museu Almiro Theobaldo Müller


Detalhe da construção da Igreja, ano de 1951. Fonte: Museu Almiro Theobaldo Müller

A execução da obra foi coordenada pelo construtor José Zanzi (famoso por dominar a técnica da alvenaria). O telhado todo treliçado em madeira foi construído pelo alemão Franz Theis (que também colaborou na construção da Igreja da Vila São João). O trabalho de construção foi feito em grande parte em mutirão pela comunidade local (Frohnarbeit). 
Trabalhadores voluntários auxiliam na concretagem do piso.

 

Itapiranga na década de 1960. Em segundo plano a Igreja Matriz e a Escola São Vicente

“As obras da Igreja continuam. Num dia 40 homens voluntários ajudaram nos trabalhos da torre, para fazer quatro vigas de cimento armado, de 1,20 m de altura e 68 cm de grossura. Também se colocou o telhado da sacristia. Foi rebocada a parede da frente no interior da Igreja. Foi resolvido fazer uma grande festa em comemoração aos 25 anos de existência da colônia e da Paróquia de Porto Novo, com a inauguração da Igreja no início de 1951.” 
(Livro Tombo Paróquia São Pedro Canísio, 05/08/1950)
A Igreja na década de 1950

A obra foi finalizada em 1951. Um fato curioso presente na memória local, relata que o construtor Franz Theis se refugiou na mata da Argentina por vários dias temendo que a queda do telhado pudesse causar algum incidente.

“Inauguração e benção solene da nova igreja matriz de Porto Novo, pelo prelado Dom Carlos Saboia. A celebração teve três horas de duração. Vários padres estiveram na celebração: José Ely, Carlos Schebenbach, Balduíno Schneider, Leopoldo Arntzen, Osvcar Hartmann, Afonso Hansen, Aloysio Hansen, Balduíno Rambo, Roberto Rambo, Albano Berwanger, Luiz Heinen. Depois da missa houve solene Te Deum. O coro foi composto pelos cantores de Itapiranga e Ervalzinho. Também tomaram parte os coros de São Miguel, Cotovelo e Beleza. Dirigente do coro Sr. Ervino Jaeger e organista Helmuth Koerbes. Após o Te Deum começaram os festejos populares, churrasco, jogos... em benefício da nova matriz. Com relação à construção da Igreja, centenas de pessoas colaboraram com dinheiro e mão de obra.” 
(Livro Tombo da Paróquia São Pedro Canísio, 02/02/1951)

Vista de Itapiranga. Década de 1960.

O altar mor veio da antiga Igreja Matriz de Santa Cruz do Sul e foi pago fornecendo madeira de lei para a atual catedral de Santa Cruz. Este altar foi trocado após reformas na Igreja em 2011 e atualmente está depositado no depósito no porão da edificação. Trata-se de uma relíquia da arte sacra que merece ser restaurada. Essa reforma  englobou o presbítero, das duas sacristias e do pórtico de entrada com a colocação de uma porta de vidro.

“Chegaram os três novos sinos para a Matriz. Foram fabricados pela firma Bromberg em Blumenau. O sino maior pesa 1085 quilos, o médio 705 e o menor 440. As inscrições: Sancte Petre Canisi, ora pro nobis; Sancte Aloisi, ora pro nobis, Mater Dei, ora pro nobis. Foi determinado o dia 09 de Dezembro para a inauguração dos sinos. O bispo já deu a licença. 
Porém, a benção se realizou no dia 23.” 
(Livro Tombo da Paróquia São Pedro Canísio, 03/11/1956)

Itapiranga, década de 1950.

A arquitetura da Igreja
Fachada frontal, 2018. Foto: Douglas Franzen

A edificação caracteriza-se pela arquitetura neogótica, com traços marcantes dos templos religiosos católicos característicos do período anterior ao Concílio Vaticano II. O neogótico é considerado um revivalismo do estilo gótico medieval, muito utilizado no século XIX e início do século XX.

A verticalidade é uma das características desse elemento arquitetônico. Para atingir essa verticalidade, o neogótico faz uso de um sistema de contrafortes Na Igreja de Itapiranga se encontra outro traço marcante: o sistema de arcos ogivais presentes na fachada frontal e nas aberturas laterais. Nas colunas laterais se percebe um sistema de contrafortes (botaréus) em três níveis, que desempenham uma função estrutural para suportar a pressão da estrutura e aliado a isso, desempenham uma função estética caracterizante da arquitetura gótica.  Esses contrafortes dão suporte aos contraventamentos da cobertura, dispostos no interior da edificação. Ao todo são oito contrafortes e oito contraventamentos (Kopfban) que condicionam o empuxe e suportam a carga da estrutura lateral.
Detalhes da arquitetura gótica. Adaptado por Douglas Franzen

Detalhe dos contrafortes externos e contraventamentos internos. Foto: Douglas Franzen

A cobertura em madeira se equipara com o assoalho e os barrotes inferiores também em madeira, o que caracteriza a Igreja de forma mista: madeira e alvenaria.


Os pináculos também simbolizam a arquitetura neogótica e estão presente na Igreja de Itapiranga. No portal de entrada ocorre o tímpano, resultado da sobreposição de arcos ogivais (arquivoltas)

Abside lateral com arte sacra

Uma das características do neogótico é o valor da luz no interior da edificação e para isso, se utiliza de vitrais coloridos e adornados. A planta baixa aliada ao sistema de treliças da cobertura permite uma nave única para a Igreja, o que oferece maior espaço e vão livre. Percebe-se também a disposição lateral de quatro absides (prolongamentos longitudinais destinados para a disposição de arte sacra).

Perspectiva do efeito dos vitrais com a luz externa. Foto: Douglas Franzen

Na torre sineira encontra-se outro elemento caracterizante da arquitetura gótica: a rosácea. A cobertura da torre é piramidal.
Perspectiva interior da rosácea da torre sineira. Foto: Douglas Franzen


O crucifixo que está disposto no altar foi confeccionado em madeira, no ano de 1964 pelo senhor Ludwig Lengert, de Linha Presidente Becker.

A cobertura da Igreja foi construída sob coordenação de Franz Theis. Consiste de um sistema treliçado em madeira utilizando a técnica enxaimel (como podemos perceber na planta da fachada). Essa estrutura em madeira, onde se torna visível no interior da Igreja, é envolta com a mesma cerâmica do forro (é como se a intenção fosse “esconder” a madeira)
Perspectiva interior. Foto: Douglas Franzen


Em seu entorno a Igreja possui um paisagismo exuberante. Destaque para uma árvore de cinamomo (Melia azedarach) plantada no ano de 1931. Em anexo também podemos encontrar o memorial da colonização, em homenagem ao Padre João Rick S.J., figura simbólica e muito significativa para a colonização de Itapiranga.
Confessionário (Beichstuhl). Foto: Douglas Franzen

Confessionário (Beichstuhl). Foto: Douglas Franzen


Arte sacra na sacristia

Abaixo vemos as plantas assinadas pelo engenheiro Serafim Bertaso:





Árvore histórica plantada em 1931

Memorial da colonização

Perspectiva aérea, 2011.

Referências de pesquisa

Livro Tombo da Paróquia São Pedro Canísio de Itapiranga.

JUNGBLUT, Roque. Documentário Histórico de Porto Novo. São Miguel do Oeste: Arco Íris Gráfica e Editora, 2000.


5 comentários:

  1. O nome completo do bispo de Palmas era: Dom Carlos Eduardo Saboya Bandeira de Mello, de familia aristocrática do Rio de Janeiro. Parabéns pelo trabalho! É tudo do meu tempao

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    1. Agradeço a contribuição, seguimos valorizando a história de Porto Novo.

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  2. Respostas
    1. Obrigado Gilvane, sabemos o quanto é importante valorizar a história e a identidade de nossos municípios. Abraço

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  3. Qual é a altura da base até no final da torre da igreja?

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