segunda-feira, 19 de novembro de 2018

As casas de Porto Novo: O Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller


Pesquisa e elaboração: Claudine Badalotti, Douglas Franzen, Patrícia de Oliveira, Gabriel Chaves.

Curso de Arquitetura e Urbanismo da Uceff Itapiranga


Breve histórico
            Como o Museu de Itapiranga teve um processo gradual de consolidação e mudança de espaços ao longo de sua história é preciso vislumbrar duas perspectivas para compreensão do seu processo de criação. Para tanto, propomos a divisão dessa abordagem em duas perspectivas: a construção da edificação e o processo de criação da instituição.
            A construção da edificação onde atualmente está localizado o Museu deve ser compreendida no esforço local pela concretização de edificações de caráter relevante para a colônia. Ao longo da história de Porto Novo muitas edificações foram consideradas de interesse coletivo, como escolas, igrejas e sedes sociais. Enfim, espaços que pudessem ser uma referência comunitária para a preservação dos valores do catolicismo e da germanidade. Uma delas foi a Casa Canônica, espaço de extrema relevância para as comunidades católicas em colonizações do Sul do Brasil.
            Os primeiros registros da construção da edificação para esse fim datam do ano de 1932, e para compreender essa dinâmica é digno de nota alguns apontamentos registrados no Livro Tombo da Paróquia São Pedro Canísio de Itapiranga. Em registro de Março de 1932 aponta-se que os recursos para a construção da edificação seriam coletados a nível local, não havendo necessidade de apoio da colonizadora Volksverein, indicando o Irmão Francisco Gellermann para fazer a planta e encaminhar o projeto de construção. “Falta a cabeça, temos braços e pernas”, indica o Livro Tombo da Paróquia (SPOHR, 2016, p.45). O Irmão Francisco Gellermann S.J., natural da Alemanha, projetou inúmeros edifícios para a Companhia de Jesus no Sul do Brasil, com destaque para o Colégio Cristo Rei em São Leopoldo-RS, o Seminário de Pareci Novo-RS, o Colégio Santo Inácio de Salvador do Sul-RS e as ampliações do Colégio Catarinense em Florianópolis.
            A construção da edificação iniciou oficialmente em Abril de 1932, com o fundamento feito por Pedro Eidt Sobrinho, que teve que retirar muitas pedras devido ao declive do terreno. Iniciada a obra o Volksverein determinou a suspensão dos trabalhos devido à escassez dos recursos e a necessidade de obras consideradas mais urgentes na colônia, como escolas e igrejas. Através de uma coleta com moradores da colônia foi adquirido um valor para a continuidade das obras. Muitas pedras para a fundação da edificação foram lascadas nas margens do Rio Uruguai e os tijolos foram fornecidos por Erid Wetzel. Após o término da fundação da edificação a obra ficou estacionada devido a desentendimentos entre a comunidade local e a direção do Volksverein, devido a interpretações díspares sobre o material ser de madeira ou de alvenaria.
Outro elemento que parece ter dificultado a sua construção foi a disputa entre as vilas Itapiranga e Sede Capela por ser a sede da colonização, aspecto muito recorrente na história local e dimensionado nas memórias da pioneira Maria Rohde, que denominou as duas vilas de núcleo urbano inferior e superior (ROHDE, 2011). Nesse embate, a construção da Casa Paroquial foi decisiva na gradativa efetivação da vila Itapiranga como sede da colonização Porto Novo.
 
Imagem 01: Início da construção da Casa Paroquial, em 1932. Fonte: Museu Coumitário Almiro Theobaldo Müller
A obra foi retomada novamente em Janeiro de 1933. No registro do Livro Tombo consta que o assoalho foi feito de madeira de cedro (SPOHR, 2016). Em Novembro de 1933 os primeiros religiosos se instalaram na Casa Canônica, mesmo ela não estando completamente finalizada. A edificação foi finalizada em Dezembro desse ano, com a dedicação da comunidade com trabalho e doações em dinheiro e materiais.
 
Casa Paroquial na década de 1930. Fonte: Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller

Outra dimensão a ser compreendida, o que não é exatamente o tema desse texto, é a criação do Museu como instituição. O Museu Comunitário de Itapiranga foi criado em 1979, composto de peças arqueológicas, doados pelo Padre Roque Rohr. Inicialmente essas peças foram guardadas numa sala da própria Casa Paroquial e posteriormente numa sala do Colégio Integrado Itapiranga, onde ficaram expostos a condições não recomendadas. Em 1990 a Prefeitura de Itapiranga construiu uma edificação específica para servir de museu, localizada junto ao pórtico de entrada da cidade. No ano de 2007 o museu foi denominado oficialmente de Museu Comunitário Almiro Theobaldo Müller, em homenagem a um pioneiro de Itapiranga entusiasta da preservação da história local. Em 2013 o museu foi transferido para atual edificação, antiga Casa Paroquial, através de contrato de locação entre a Prefeitura Municipal de Itapiranga e a Paróquia São Pedro Canísio.
O Museu está localizado no centro histórico da cidade de Itapiranga - Altstadt. Esse espaço é simbólico para a identidade, a memória e a cultura local, onde se localizam muitas outras edificações históricas do município.

Aspectos arquitetônicos
O padrão arquitetônico é característico do ecletismo do início do século XX, elementos presente nas colonizações germânicas do Sul do Brasil. Esse ecletismo denota a edificação elementos de uma arquitetura requintada, como cornija, frontão, pingadeiras nas janelas e elementos de ornamentação marcantes. Foi a primeira edificação em alvenaria de Porto Novo, mas possui elementos em madeira no sótão, na cobertura, no assoalho e nas aberturas.
A edificação possui o sistema de cobertura caracterizante das edificações construídas nas colonizações alemãs no Sul do Brasil. O primeiro detalhe que se observa é no telhado, em formato de mansarda, ou em alemão Mansarddach. Essa técnica foi trazida da Europa pelos imigrantes e consiste na disposição útil de um novo pavimento superior, formando uma espécie de sótão para um novo cômodo. O que caracteriza o telhado mansarda é o vão livre do pavimento superior e a utilização de janelas e elementos vazados para a iluminação natural. Nessa edificação o sótão foi utilizado inicialmente como dormitório para os religiosos no período em que funcionava ali a Casa Canônica e atualmente serve de espaço de exposição para o acervo do Museu. Outra peculiaridade do pavimento superior é de que ele possui um terraço em anexo que proporciona uma ambientação da fachada frontal.
                Para que o sótão (Speiger) se tornasse um cômodo, foi necessário constituir um sistema de treliças que liberasse o vão do pavimento. Para tanto, foi utilizada a técnica enxaimel para o encaixe da madeira. Ou seja, além da peculiaridade do telhado mansarda, o pavimento superior comporta outro elemento arquitetônico característico da cultura germânica.
            A edificação possui carácter de significativa relevância para a história de Porto Novo e sua localização privilegiada eleva sua simbologia para a paisagem da cidade de Itapiranga. Sendo espaço de museu – mesmo não apresentando as disposições técnicas adequadas – se mantêm viva no cotidiano da população. O acerco tem catalogadas 756 peças que são um registro da história de Itapiranga e região. A preservação desses espaços depende dos esforços da comunidade e do poder público, atribuindo a ela o significado digno de sua dimensão de memória e de patrimônio de Porto Novo.
Chaminé na fachada posterior. Fonte: Autores. 


Hall de entrada. Fonte: Autores

Frontão. Fonte: Autores. 

Speiger, sótão. Fonte: Autores. 

Detalhe do telhado mansarda. Fonte: Autores. 

Escada frontal. Fonte: Autores

O acervo: vitrola do Dr. Maximiliano Leon, ano de 1960. Fonte: Autores. 

O acervo: peças arqueológicas de Porto Novo. Fonte: Autores. 

O acervo: Máquina registradora de caixa da antiga Comercial Weis S.A.



O acervo: Aparelho telefônico do Padre Albino Schwade

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