Pesquisa
e elaboração: Claudine Badalotti, Douglas Franzen, Patrícia de Oliveira,
Gabriel Chaves.
Curso
de Arquitetura e Urbanismo da Uceff Itapiranga
Breve histórico
Como o Museu de Itapiranga
teve um processo gradual de consolidação e mudança de espaços ao longo de sua
história é preciso vislumbrar duas perspectivas para compreensão do seu
processo de criação. Para tanto, propomos a divisão dessa abordagem em duas
perspectivas: a construção da edificação e o processo de criação da
instituição.
A
construção da edificação onde atualmente está localizado o Museu deve ser
compreendida no esforço local pela concretização de edificações de caráter
relevante para a colônia. Ao longo da história de Porto Novo muitas edificações
foram consideradas de interesse coletivo, como escolas, igrejas e sedes
sociais. Enfim, espaços que pudessem ser uma referência comunitária para a
preservação dos valores do catolicismo e da germanidade. Uma delas foi a Casa Canônica,
espaço de extrema relevância para as comunidades católicas em colonizações do
Sul do Brasil.
Os
primeiros registros da construção da edificação para esse fim datam do ano de
1932, e para compreender essa dinâmica é digno de nota alguns apontamentos
registrados no Livro Tombo da Paróquia São Pedro Canísio de Itapiranga. Em
registro de Março de 1932 aponta-se que os recursos para a construção da
edificação seriam coletados a nível local, não havendo necessidade de apoio da
colonizadora Volksverein, indicando o Irmão Francisco Gellermann para fazer a
planta e encaminhar o projeto de construção. “Falta a cabeça, temos braços e
pernas”, indica o Livro Tombo da Paróquia (SPOHR, 2016, p.45). O Irmão
Francisco Gellermann S.J., natural da Alemanha, projetou inúmeros edifícios
para a Companhia de Jesus no Sul do Brasil, com destaque para o Colégio Cristo
Rei em São Leopoldo-RS, o Seminário de Pareci Novo-RS, o Colégio Santo Inácio
de Salvador do Sul-RS e as ampliações do Colégio Catarinense em Florianópolis.
A
construção da edificação iniciou oficialmente em Abril de 1932, com o
fundamento feito por Pedro Eidt Sobrinho, que teve que retirar muitas pedras
devido ao declive do terreno. Iniciada a obra o Volksverein determinou a
suspensão dos trabalhos devido à escassez dos recursos e a necessidade de obras
consideradas mais urgentes na colônia, como escolas e igrejas. Através de uma
coleta com moradores da colônia foi adquirido um valor para a continuidade das
obras. Muitas pedras para a fundação da edificação foram lascadas nas margens
do Rio Uruguai e os tijolos foram fornecidos por Erid Wetzel. Após o término da
fundação da edificação a obra ficou estacionada devido a desentendimentos entre
a comunidade local e a direção do Volksverein, devido a interpretações díspares
sobre o material ser de madeira ou de alvenaria.
Outro elemento que
parece ter dificultado a sua construção foi a disputa entre as vilas Itapiranga
e Sede Capela por ser a sede da colonização, aspecto muito recorrente na
história local e dimensionado nas memórias da pioneira Maria Rohde, que
denominou as duas vilas de núcleo urbano inferior e superior (ROHDE, 2011).
Nesse embate, a construção da Casa Paroquial foi decisiva na gradativa
efetivação da vila Itapiranga como sede da colonização Porto Novo.
Imagem 01: Início da construção da Casa Paroquial, em 1932. Fonte: Museu Coumitário Almiro Theobaldo Müller |
A obra foi retomada
novamente em Janeiro de 1933. No registro do Livro Tombo consta que o assoalho
foi feito de madeira de cedro (SPOHR, 2016). Em Novembro de 1933 os primeiros
religiosos se instalaram na Casa Canônica, mesmo ela não estando completamente
finalizada. A edificação foi finalizada em Dezembro desse ano, com a dedicação
da comunidade com trabalho e doações em dinheiro e materiais.
Outra dimensão a ser
compreendida, o que não é exatamente o tema desse texto, é a criação do Museu
como instituição. O Museu Comunitário de Itapiranga foi criado em 1979,
composto de peças arqueológicas, doados pelo Padre Roque Rohr. Inicialmente
essas peças foram guardadas numa sala da própria Casa Paroquial e
posteriormente numa sala do Colégio Integrado Itapiranga, onde ficaram expostos
a condições não recomendadas. Em 1990 a Prefeitura de Itapiranga construiu uma
edificação específica para servir de museu, localizada junto ao pórtico de
entrada da cidade. No ano de 2007 o museu foi denominado oficialmente de Museu
Comunitário Almiro Theobaldo Müller, em homenagem a um pioneiro de Itapiranga
entusiasta da preservação da história local. Em 2013 o museu foi transferido
para atual edificação, antiga Casa Paroquial, através de contrato de locação
entre a Prefeitura Municipal de Itapiranga e a Paróquia São Pedro Canísio.
O Museu está localizado
no centro histórico da cidade de Itapiranga - Altstadt. Esse espaço é simbólico para a identidade, a memória e a
cultura local, onde se localizam muitas outras edificações históricas do
município.
Aspectos
arquitetônicos
O padrão arquitetônico
é característico do ecletismo do início do século XX, elementos presente nas
colonizações germânicas do Sul do Brasil. Esse ecletismo denota a edificação
elementos de uma arquitetura requintada, como cornija, frontão, pingadeiras nas
janelas e elementos de ornamentação marcantes. Foi a primeira edificação em
alvenaria de Porto Novo, mas possui elementos em madeira no sótão, na
cobertura, no assoalho e nas aberturas.
A edificação possui o
sistema de cobertura caracterizante das edificações construídas nas
colonizações alemãs no Sul do Brasil. O primeiro detalhe que se observa é no
telhado, em formato de mansarda, ou em alemão Mansarddach. Essa técnica foi trazida da Europa pelos imigrantes e
consiste na disposição útil de um novo pavimento superior, formando uma espécie
de sótão para um novo cômodo. O que caracteriza o telhado mansarda é o vão
livre do pavimento superior e a utilização de janelas e elementos vazados para
a iluminação natural. Nessa edificação o sótão foi utilizado inicialmente como
dormitório para os religiosos no período em que funcionava ali a Casa Canônica
e atualmente serve de espaço de exposição para o acervo do Museu. Outra
peculiaridade do pavimento superior é de que ele possui um terraço em anexo que
proporciona uma ambientação da fachada frontal.
Para
que o sótão (Speiger) se tornasse um
cômodo, foi necessário constituir um sistema de treliças que liberasse o vão do
pavimento. Para tanto, foi utilizada a técnica enxaimel para o encaixe da
madeira. Ou seja, além da peculiaridade do telhado mansarda, o pavimento
superior comporta outro elemento arquitetônico característico da cultura
germânica.
A
edificação possui carácter de significativa relevância para a história de Porto
Novo e sua localização privilegiada eleva sua simbologia para a paisagem da
cidade de Itapiranga. Sendo espaço de museu – mesmo não apresentando as
disposições técnicas adequadas – se mantêm viva no cotidiano da população. O
acerco tem catalogadas 756 peças que são um registro da história de Itapiranga
e região. A preservação desses espaços depende dos esforços da comunidade e do
poder público, atribuindo a ela o significado digno de sua dimensão de memória
e de patrimônio de Porto Novo.
Chaminé na fachada posterior. Fonte: Autores. |
Hall de entrada. Fonte: Autores |
Frontão. Fonte: Autores. |
Speiger, sótão. Fonte: Autores. |
Detalhe do telhado mansarda. Fonte: Autores. |
Escada frontal. Fonte: Autores |
O acervo: vitrola do Dr. Maximiliano Leon, ano de 1960. Fonte: Autores. |
O acervo: peças arqueológicas de Porto Novo. Fonte: Autores. |
O acervo: Máquina registradora de caixa da antiga Comercial Weis S.A. |
O acervo: Aparelho telefônico do Padre Albino Schwade |
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